EBD – Interligados Jovens – 25/09/2011
O Deus do Reino
Se o reino significa o domínio de Deus, então todo aspecto do reino deve ser derivado do caráter e ação de Deus. A presença do reino deve ser interpretada a partir da natureza da atividade que Deus realiza no presente; e o futuro do reino é a manifestação redentora de seu governo real no final dos tempos.
O DEUS QUE BUSCA
Deus sempre buscou comunhão com o homem. No Jardim do Édem, Deus visitava o homem na viração do dia. Deus busca comunhão com o homem. Deus se manifestou à Abraão, Isaque, Jacó, Moises, Noé, etc. Deus se manifestou a mim e a você.
Esta tese é confirmada por um estudo do conceito particular de Deus que pode ser encontrado nos ensinos de Jesus. Nisto reside um fato marcante: o elemento de novidade na proclamação de Jesus a respeito do Reino é colocado em termos paralelos a um novo elemento em seu ensino sobre Deus, ou seja, que Deus é o Deus que busca.
O Deus dos profetas estava em constante atividade na história, tanto para julgar como para salvar o seu povo. O Deus do judaísmo pós-exílico havia se retirado do mundo perverso e não mais estava exercendo uma atividade redentora na história. Um ato de redenção final era esperado no fim dos tempos; mas nesse ínterim Deus permanecia ausente da história. A mensagem de Jesus sobre o Reino proclamava que Deus não apenas iria agir nos tempos do fim, mas que Deus estava agindo de novo no presente de um modo redentor na história. Deus estava visitando o seu povo. Em Jesus, Deus tomara a iniciativa de procurar o pecador, a fim de trazer os homens perdoados para a bênção de seu reino. Em resumo, ele é o Deus que busca.
Este mesmo fato estava incorporado na própria missão de Jesus. Quando ele foi criticado pelos fariseus por violar os seus padrões de justiça e associar-se com os pecadores, ele replicou que era a sua missão ministrar aos pecadores (Marcos 2.15-17). São aqueles que reconhecem que estão enfermos que precisam de médico. Jesus deveria levar a mensagem das boas-novas do Reino a tais pecadores. Ele não nega o fato de que são pecadores, nem subestima a sua culpa. Pelo contrário, ele aponta para a sua necessidade e procura ministrar tendo em vista essa necessidade.
A grande verdade a respeito de Jesus buscando o pecador é afirmada com extensão nas três parábolas de Lucas 15, que foram proferidas para silenciar a crítica de que Jesus compartilhava a intimidade da comunhão da mesa juntamente com pecadores.
Ele afirmou que foi o propósito divino buscar a ovelha que se havia desgarrado; procurar a moeda que se havia perdido; receber de volta o pródigo (esbanjador) à comunhão da família, mesmo que ele não merecesse o perdão.
Em cada parábola há uma iniciativa divina: o pastor busca a ovelha; a mulher varre a casa à procura da moeda; o pai espera pela volta do pródigo. O caráter central na parábola do “filho pródigo” não é o filho, mas o pai, que aguarda ansiosamente a sua volta. A parábola ilustra primariamente o amor e a graça de Deus, e não tanto a prodigalidade do homem.
O centro das “boas-novas” sobre o Reino é que Deus tomou a iniciativa de buscar e achar aquilo que se havia perdido.
O DEUS QUE CONVIDA
O Deus que busca é também o Deus que convida. Jesus descreveu a salvação em termos de um banquete ou festa para a qual muitos foram convidados (Mateus 22.1-9; Lucas 14.16-17; Mateus 8.11). Levando em conta este contexto, podemos compreender a freqüente participação na comunhão da mesa entre Jesus e os seus seguidores como uma nova parábola real.
A comunhão da mesa, para os judeus, era o tipo mais íntimo de relacionamento e desempenhou um importante papel no ministério de Jesus (Marcos 2.15). A palavra “chamar” significa convite. “Convidar pecadores para o Grande Banquete do Reino, foi primariamente esta, a missão do Senhor”.
A mensagem de Jesus a respeito do Reino de Deus é a proclamação por palavras e atos de que Deus está agindo e manifestando dinamicamente sua vontade redentora na história. Deus está buscando os pecadores: ele os está convidando a entrar no Reino e participar da bênção; ele está solicitando deles uma resposta favorável à sua oferta graciosa, está incitando-os ao arrependimento. Deus tornou a falar. Um novo profeta apareceu, na verdade, alguém que é mais do que um profeta, alguém que traz aos homens a própria bênção que promete.
O DEUS PATERNAL
Deus busca pecadores, convidando-os a que se submetam ao seu domínio para que possa ser seu Pai. Existe uma relação inseparável entre o Reino de Deus e a sua Paternidade.
O justo entrará no Reino de seu Pai (Mateus 13.43).
Foi o Pai que preparou para os benditos a herança do Reino (Mateus 25.34).
O mais elevado dom da Paternidade de Deus é a participação em sua soberania. Naquele dia Jesus desfrutará uma comunhão renovada com os seus discípulos no Reino do Pai (Mateus 26.29).
Uma vez que a maior alegria dos filhos de Deus é a de desfrutar as bênçãos do Reino, Jesus ensina seus discípulos a orar: “Pai nosso, que estás nos céus... venha o teu reino” (Mateus 6.10). Fica demonstrado, de modo bem claro, que a soberania real e a Paternidade são conceitos intimamente relacionados. O conceito de Paternidade é qualificado pelo conceito do Reino. É como Pai que Deus garantirá aos homens a entrada no Reino; a decorrência é que aqueles que não entrarão no Reino não desfrutarão da relação de Deus como Pai.O dom da Paternidade pertence não somente á consumação escatológica; é também um dom presente. Conseqüentemente, a futura bênção do Reino depende de uma relação no tempo presente. Isto é verificado no fato de que Jesus ensinou aos seus discípulos a chamarem Deus como seu Pai e a procurarem-no como tal. Os que conhecem a Deus como Pai são aqueles para os quais o bem supremo na vida é o Reino de Deus e a sua justiça (Mateus 6.32,33; Lucas 12.30). O conceito de chamar Deus de Pai tem suas raízes no Velho Testamento, onde a Paternidade é uma maneira de descrever a relação decorrente do pacto entre Deus e Israel. Portanto, Deus é freqüentemente referido como Pai da nação (Deuteronômio 32.6; Isaías 64.8; Malaquias 2.10).
Jesus propositalmente tomou o ensino judaico a respeito da Paternidade de Deus, aprofundou-o e enriqueceu-o, estendendo-o a todos os homens. Não que Deus seja Pai de todos os homens (João 1:12). Mas as pessoas só se tornam de fato filhos mediante a entrada no Reino de Deus. “Só recebe as bênçãos da paternidade quem aceita as responsabilidades do domínio”.
O DEUS QUE JULGA
Enquanto Deus busca o pecador e oferece-lhe a dádiva do Reino, permanece um Deus de justiça retributiva àqueles que rejeitam sua oferta graciosa. Sua preocupação e interesse pelos perdidos não permite, entretanto, que a santidade seja dissipada numa benignidade bondosa. Deus é o amor que busca, mas ele é também o amor santo. Ele é o Pai celestial. Seu nome deve ser reverenciado (Mateus 6.9). Conseqüentemente, os que rejeitam a oferta do seu Reino devem sujeitar-se ao seu julgamento.
Na realidade, o próprio fato de que Deus é descrito como sendo o amor que busca o pecador coloca o homem face a um dilema. O homem deve responder a esta oferta de amor; caso contrário, uma condenação ainda maior o aguarda. Bultmann fala de Deus como alguém que se aproxima dos homens como “o que exige”. Quando confrontado pela pessoa de Jesus, o indivíduo confronta-se com o juízo de Deus e precisa tomar uma decisão. O resultado será ou a salvação do Reino ou o julgamento.
Esta teoria de justiça retributiva surge repetidas vezes na proclamação que Jesus fez a respeito do Reino. Na pregação de João Batista, a vinda do Reino escatológico significará a salvação para o justo, mas um julgamento de fogo para o injusto (Mateus 3.12). Jesus ensinou a mesma coisa. O reverso de herdar o Reino será sofrer a punição do fogo eterno (Mateus 25.34,41).
O significado do Reino de Deus é, ao mesmo tempo, salvação e julgamento.
Este julgamento escatológico do Reino de Deus está em princípio decidido na missão de Jesus entre os homens. O destino escatológico dos indivíduos é determinado pela reação que demonstrarem para com Jesus e sua proclamação (Mateus 10.32,33).
Quando os discípulos de Jesus fossem rejeitados, ao visitarem várias cidades, proclamando o Reino, deveriam sacudir a poeira dos seus pés, numa parábola nova ou ação de julgamento e condenação, “Saiba que o Reino de Deus vos é chegado”, tornar-se-ia uma ameaça, em lugar de uma promessa. Esta idéia é repetida em Lucas 19.41-44. Jesus chorou sobre Jerusalém porque ela não reconheceu “o tempo de sua visitação”. O Reino de Deus ficou próximo de Israel em graça e misericórdia. Porém Israel rejeitou a parte de misericórdia e escolheu o caminho que o conduziu à desgraça. Mediante a rejeição de Israel, Deus, então, estaria visitando a nação com juízo.
Deus mais uma vez tornou-se ativo na história. Ele visitou o seu povo na pessoa e missão de Jesus a fim de conferir-lhes as bênçãos do Reino. Mas quando o oferecimento gracioso de Deus é jogado fora, uma visitação de juízo há de seguir-se: um que será realizado na história (Lucas 21.20-24) e o outro na consumação dos tempos. Ambos são julgamentos pertinentes ao domínio real de Deus.
Por: Pr. Rodrigo Paradela
Estudo baseado no livro de Teologia do Novo Testamento. George Ledd