A ESCOLA DO DESERTO
Imaginemos um deserto. Estamos acostumados a vê-los. Sabemos que é um ambiente instável em seu clima, de dia muito quente e à noite, muito frio. É seco, perigoso. Apesar de ser tão inóspito, alguns animais peçonhentos se escondem no deserto. É um lugar perigoso, nesse aspecto.
Habituamo-nos a usar a palavra deserto para descrevermos um local vazio, pouco habitado, sem pessoas, o que seria também um lugar inseguro, que nos gera medo. Também utilizamos essa mesma palavra para falarmos sobre dificuldades, provações, tentações.
Na verdade, o deserto é uma grande escola de vida. Nessa escola, Deus nos matricula algumas vezes, e ninguém pode escapar disso. Mas, por que Deus faria isso?
1) Buscamos mais a presença de Deus. No deserto, passamos a orar mais vezes, inclusive de joelhos, a qualquer hora do dia, da noite; ficamos por horas na presença Dele, rasgamos o nosso coração, nos entregamos totalmente a Ele. Passamos a ler mais a Bíblia também, com sede e fome da Palavra, esperando ardentemente que Deus fale conosco. Passamos a ter uma fome e sede insaciáveis de Deus, buscando-O sem cessar.
2) Ficamos mais sensíveis à voz de Deus. Se estamos mais próximos de Deus, buscando-O mais, podemos ouvi-Lo. Deus também ouve quem está próximo Dele. Se nos achegamos a Ele, podemos ouvi-Lo e Ele pode nos ouvir também.
3) Deus mostra sua vontade. Como estamos com sede e fome de Deus, Ele pode nos ouvir, falar conosco e nos mostrar a Sua vontade, além de, ali mesmo, no deserto, nos capacitar para fazê-la. O deserto também é um lugar de treinamento.
4) Deus quer ver o que está em nosso coração. Deus pode nos levar ao deserto para provar o nosso coração, saber como ele está, como está a nossa fé, como em Deuteronômio 8:2: “E te lembrarás de todo o caminho pelo qual o Senhor, o Teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os Seus mandamentos”
Para uma maior compreensão dessa grande Escola, vamos ver alguns exemplos bíblicos.
Exemplos
1) Israel
Israel foi o povo guiado e sustentado por Deus. Ainda no Egito, recebeu a promessa de libertação da escravidão, a qual estavam sujeitos. Ao libertar Seu povo, Deus matriculou-o na sua Escola do Deserto.
Era um “curso” rápido, de poucos meses. As primeiras aulas foram esplêndidas. O povo viu seus inimigos sofrerem com as dez pragas, depois morreram no mar. Deus lutou com Seu povo e dava-lhe vitória. Porém, o povo não tinha aprendido conceitos básicos, pré-requisitos para este curso. Teve que passar mais quarenta anos nessa escola. E, mesmo com todo esse tempo, pouco aprenderam sobre Deus. Talvez um supletivo rápido fizesse mais efeito.
Mesmo assim, Deus sustentou-o com o maná, com carne, e nunca deixou faltar água. Continuou lutando, indo à frente nas batalhas, conservando as vestes e calçados do povo, que caminhou por quarenta anos.
Estes quarenta anos mostraram a provisão divina, e a dureza do coração do povo de Israel, como em Deuteronômio 8:3-5: Ele te afligiu e te deixou ter fome; depois te sustentou com o maná, que não conhecias, e que teus pais também não conheceram, para te dar a entender que nem só de pão viverá o homem, mas de tudo o que sai da boca do Senhor. Nunca se envelheceu a tua veste, nem se inchou o teu pé estes quarenta anos. Reconhece, portanto, em teu coração que, como um homem castiga seu filho, assim te castiga o Senhor, o Teu Deus.”
Israel passou mais tempo nessa Escola do que deveria. Sabemos que, quando alguns israelitas foram espiar a terra, realmente constataram que ela era realmente muito boa, fértil, grande. Porém, viram que muitos gigantes habitavam ali, e estes deveriam ser vencidos pelo povo de Israel. Temeram. Desacreditaram na promessa. Quiseram voltar ao Egito. Somente dois espias, dentre os doze, continuaram confiantes em Deus. Por terem um coração duro, tiveram que passar quarenta anos no deserto.
Você pode “repetir” na Escola do Deserto enquanto não aprender a depender de Deus. Israel confiava apenas em si, nas suas armas de guerra. Não tinha fé que Deus poderia fazer até o impossível pelo Seu povo. Da mesma forma, podemos estar no deserto porque não aprendemos essa básica lição: Depender de Deus em tudo, para tudo.
2) João Batista
João foi o profeta que preparou o caminho para Jesus. Lucas 1:80 diz: “O menino crescia e se fortalecia em espírito; e viveu nos desertos até o dia em que havia de aparecer a Israel”.
E foi ali, no deserto, que João Batista recebeu a palavra de Deus, conforme Lucas 3:2: “Quando Anás e Caifás eram sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra a João, filho de Zacarias”.
Podemos ver, então, que Deus pode te levar ao deserto para te dar a Sua palavra. No deserto é mais fácil para Deus falar, e o é também para nós ouvirmos, como já dissemos anteriormente.
3) Jesus
Até Jesus, o Filho de Deus, foi matriculado nessa escola.
Logo após ser batizado, Jesus foi levado, pelo Espírito, ao deserto. Em Lucas 4:2, diz que Jesus foi tentado por quarenta dias, nos quais não comeu nem bebeu.
Vamos ver alguns pontos sobre a tentação de Jesus:
1) Satisfação das necessidades físicas, materiais (Lucas 4: 3 e 4): Jesus teve fome. Afinal, ficou quarenta dias sem comer, ainda mais no deserto.
2) Satisfação do desejo de governo, poder, reconhecimento pelas pessoas (Lucas 4:5-8): Jesus teve a oportunidade de ter o domínio sobre as pessoas, de ter poder sobre elas, ser honrado por elas a troco de nada.
3) Afirmação do poder de Deus e confirmação de ser Seu Filho (Lucas 4: 9-12): O diabo tentou Jesus a provar que era filho de Deus. Até porque, Jesus havia sido, aparentemente, abandonado por Deus naquele deserto, entregue a seu inimigo.
Jesus resistiu a todas essas tentações, pois sabia em quem confiava. Jesus tinha fé em Deus, que aquele deserto passaria, e foi isso que aconteceu. Em Mateus, diz que, após isso, os anjos serviram a Jesus.
É importante dizermos que Jesus foi tentado por quarenta dias. As narrativas que encontramos nos Evangelhos descrevem o momento final desse período. Uma leitura desatenta nos leva a pensar que Jesus foi tentado apenas três vezes pelo Diabo.
Em Lucas 4: 13, diz que o diabo deixou Jesus até o momento oportuno. Lucas 22:28, dirigindo-se aos Seus discípulos, Jesus diz: “Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações”. Jesus foi tentado muitas outras vezes, assim como nós o somos.
Uma observação atenta do trecho sobre a tentação de Jesus pode nos levar a uma pergunta: Onde estavam os discípulos quando Jesus passou quarenta dias no deserto? E seus seguidores, e muitos que procuravam milagres, curas?
Se analisarmos os evangelhos, vamos notar que, após o deserto, Jesus vai para Cafarnaum, onde começa a pregar, iniciando Seu ministério. Esse deserto Jesus teve que enfrentar sozinho.
Muitas vezes, passamos pelo deserto sem a ajuda de ninguém. Às vezes não queremos compartilhar com outros o deserto; outras vezes, somos deixados por todos. Pode ser, também, que o nosso deserto seja passarmos um período sós, isolados, por alguma circunstância. Saiba que Jesus passou pelo deserto desse mesmo jeito, sem nenhum apoio humano, mas com toda força de Deus.
Esperanças no Deserto
Deus nos matricula nessa Escola, mas não nos deixa. Ele tem várias garantias para nós, quando estivermos cursando em sua escola:
1) Resposta à oração: “Esperei com paciência no Senhor, e Ele se inclinou para mim e ouviu minha oração” (Salmos 40:1) e também “ Ele me invocará e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia, o livrarei e o glorificarei” (Salmos 91:15)
2) Esperança: “... no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo: eu venci o mundo” (João 16:33) Estas são as palavras de Jesus. Muitas pessoas, erradamente, acrescentam a esse versículo: “e vós vencereis”, sem apontar como. Parece-nos que todos, indistintamente, vencerão, de qualquer jeito. Mas sabemos que não é assim. Em I João 5:4, encontramos a chave da vitória: “Pois todo que é nascido de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. Assim como Jesus teve fé em Deus, e venceu, poderemos vencer também, sob as mesmas circunstâncias.
3) Consolação e restauração: “O Senhor certamente consolará Sião e consolará todos os seus lugares assolados; Ele fará o seu deserto como o Éden, e os seus ermos como o jardim do Senhor. Alegria e contentamento se acharão nela, ações de graça e som de cânticos” (Isaías 51:3) Essa é uma grande promessa de restauração. Mesmo que tudo esteja sombrio, destruído, mesmo que não vejamos a esperança, Deus promete restaurar, consolar, mudar a nossa sorte.
4) Em Ezequiel 37:1-10, temos a conhecida narrativa de um vale de ossos secos, ao qual o profeta foi levado, pelo Espírito. Se era um vale com ossos sequíssimos, podemos imaginar um deserto, já que é dada a ênfase no estado dos ossos. Provavelmente, o local fora palco de uma batalha, onde um exército foi derrotado. Era um lugar de morte. Não havia esperança. Mas Deus envia Sua palavra, através do profeta, que profetiza aos ossos e, ao ouvirem a voz de Deus, imediatamente começam a se juntar. Depois, Deus envia Seu espírito, e aqueles corpos tomam vida, e formam um grande exército.
Da mesma forma, você pode se sentir seco, um exército abatido, até mesmo derrotado, morto, mas você pode reviver se ouvir a Palavra de Deus. Deus o pode levantar do deserto, fortalecer e leva-lo às águas purificadoras, para você mergulhar. Deus pode também levanta-lo do deserto, e levá-lo à terra das promessas, como fez com Israel.
5) “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida” (Apocalipse 2:10b) Esta é a nossa maior promessa. Apesar de tudo, das provações, das tentações, dos desertos, se formos fiéis, vamos receber a coroa da vida, e habitarmos para sempre com Deus.
Coloque diante de Deus o que está em seu coração. Quais seus sentimentos, suas expectativas, suas esperanças, se ainda as tiver. Entregue-se totalmente a Ele. Dependa exclusivamente Dele. Mesmo que seus ossos estejam secos, ouça a Palavra de Deus, e você vai reviver, e se por em pé, e será um grande servo ou serva de Deus.
Que Deus nos abençoe
Jhonatan Fernandes da Cruz